Quando o bezerro é castrado, o valor da sua arroba cai? E capando o recém-nascido, ele pesa menos ao abate do que o boi inteiro? Qual a diferença média de um para o outro? Estes foram questionamentos enviados pelo criador Júlio Cesar, de Luziânia-GO, ao Giro do Boi Responde.
As perguntas foram respondidas no programa desta segunda, dia 19, pelo médico veterinário e consultor Ademir Ribeiro, consultor da Estância Espora de Prata, em Ariquemes -RO, e idealizador do Programa Touro Zero.
Conforme explicou anteriormente em resposta a telespectador no Giro do Boi, se o pecuarista tem intenção de abater os animais superprecoces, antes da puberdade, não há perda de desempenho ao decidir castrar ao nascimento.
Entretanto, caso o produtor resolva castrar os animais depois de sua puberdade, como ao sobreano, por exemplo, há diferenças de desempenho, de fato. “O boi inteiro ganha 15% a mais em relação ao boi capão. Isso é devido à produção de testosterona pelo testículo. Esse é um hormônio anabolizante, então depois da puberdade esse hormônio atua com velocidade no organismo e faz ganhar esses 15% a mais”, apresentou.
“Se você colocar numa engorda no mesmo sistema um boi inteiro e um boi capão, no final esse boi inteiro vai sair com uma arroba a mais em relação ao boi capão”, simplificou.
Ademir justificou por que os pecuaristas optam por não castrar os animais. “Por que o pecuarista não castra e não quer castrar seus animais? Quando ele leva o boi gordo para o frigorífico para ser abatido, ele percebe […] negociações de boi inteiro no mesmo valor do boi capão, então ele pensa que não vai castrar mais porque não vê nenhuma vantagem em castrar, já que o valor é o mesmo”, observou.
Mas a realidade é que animais castrados valem o mesmo que os inteiros quando não estão devidamente bem terminados e não aproveitam todo o potencial de produção de carne de qualidade, conforme apontou o especialista. Para esses casos, o veterinário indicou a forma correta de compensar a perda de desempenho em peso final que o boi castrado tem com relação ao inteiro agregando valor à sua carcaça.
“Quando você castra, você precisa pôr um acabamento de carcaça. E, às vezes, o pecuarista castra esse boi e 40 ou 50 dias depois da cirurgia, com ela já cicatrizada, ele entrega esse boi castrado para o frigorífico considerando como um boi capão. Mas quando esse bovino passa pela sala de matança, a carcaça não está acabada, esse bovino não está gordo, ele só está simplesmente castrado”, ponderou.
“Então, meu amigo pecuarista, se você castrar um boi com 400 kg, você tem que colocar pelo menos, no mínimo, 120 kg nele depois que você castrou. E se você castrar esse bom na faixa de peso entre 360 para 400 kg, você precisa colocar, no mínimo, 150 kg depois que você castrou. Ou seja, você tem que colocar de 120 a 200 kg de peso nesse boi depois que você castrou ele. Você precisa comercializar uma carcaça acabada e bem terminada para o seu boi ter valor, para o seu boi ser capão e ser diferente do boi inteiro”, sustentou Ademir.
O veterinário afirmou ainda que há um custo de produção um pouco menor para a fase de terminação dos animais castrados com relação ao boi inteiro, uma vez que eles têm peso menor e proporcionalmente consomem menos matéria seca que os bois inteiros.
“O que nós temos visto aqui na Estância Espora de Prata? O bovino faz um consumo de 2 a até 3% de matéria seca em relação ao seu peso vivo. Aqui na nossa engorda, este número está ficando na casa de 2,3 a 2,5% do peso vivo do bovino em matéria seca. Na matéria seca é onde estão os nutrientes, proteína, energia, minerais e vitaminas. Quando você faz uma engorda no mesmo sistema, esse boi inteiro fica um pouquinho mais caro porque o peso vivo correspondente ao consumo de matéria seca é maior, […] ele vai consumir muito mais. O boi capão fica um pouquinho mais barato porque seu consumo de matéria seca também é pelo peso vivo. Ele ganha 15% menos, mas o que o bovino capão exige para colocar o tecido adiposo, mais gordura, é de uma dieta rica em energia – até seis vezes mais energia em relação ao boi inteiro. Então se você castrar, colocar esse ganho de peso, dar acabamento e terminação, você tem poder de barganha, sim, lá no frigorífico. E se for um cruzamento industrial, pode castrar porque existe o (Protocolo) 1953, que é um programa de carne premium do Friboi que está pagando bônus. Aqui em Rondônia, nós ganhamos até R$ 11,00 a mais por arroba nesse cruzamento industrial quando nós abatemos no 1953”, revelou o especialista.