Conheça o projeto que possibilitará a convivência harmônica entre abelhas e soja. O acordo, que começa a valer a partir da safra 2022/2023 e tem duração prevista de três anos, terá ações em três regiões do país: Paraná (Maringá), Mato Grosso do Sul (Dourados) e Rio Grande do Sul (São Gabriel).
Cada vez mais a produção agrícola e a preservação ao meio ambiente caminham lado a lado, algo possibilitado, sobretudo, graças aos avanços tecnológicos na área de Agricultura de Precisão (AP), que comprovam, dia a dia, que é possível alcançar bons resultados no que se refere à produtividade
com o menor dano ambiental possível.
Um exemplo recente dessa busca por equilíbrio está no acordo de cooperação técnica e financeira assinado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e pela companhia química alemã Basf, com o objetivo de possibilitar a convivência harmônica entre sojicultores e apicultores. O acordo, que começa a valer a partir da safra 2022/2023 e tem duração prevista de três anos, terá ações em três regiões do país: Paraná (Maringá), Mato Grosso do Sul (Dourados) e Rio Grande do Sul (São Gabriel).
Para que as atividades desenvolvidas por meio da parceria sejam acompanhadas, será implantado o Protocolo de Boas Práticas Agrícolas e Apícolas, que atualmente está sendo desenvolvido. Na prática, as iniciativas do acordo de cooperação técnica e financeira incluem o detalhamento do entorno dos apiários para que assim sejam identificados os componentes da paisagem, como reserva legal, Área de Proteção Permanente (APP), lavouras perenes, lavouras anuais, pastagens, entre outros. Dessa forma, torna-se possível delimitar os pontos de intersecção e sobreposição de áreas de exploração agrícola e áreas de forrageamento das abelhas dos apiários.
Com isso, a expectativa é que o sistema de produção e as práticas de manejo de cada agricultor sejam descritos e todos os requisitos de boas práticas sejam verificados e cumpridos de fato.
Parceria vantajosa
Além dos benefícios ambientais, a parceria tende a proporcionar lucros financeiros aos envolvidos. Isso porque a convivência harmônica pode proporcionar vantagens tanto para a soja quanto para as abelhas. Isso porque a florada da soja pode ser utilizada como pasto apícola pelos criadores de abelhas em períodos de pouca disponibilidade de alimento, ao mesmo tempo em que a produtividade da soja pode ter um aumento de 13% provocado pelo processo de polinização propiciado pela visitação das abelhas.
Os benefícios mútuos já foram constatados por meio de três experimentos realizados no campo experimental da Embrapa Soja, em Londrina (PR), nas safras de soja de 2017/2018 a 2019/2020. Na ocasião, os pesquisadores observaram três cenários possíveis: o primeiro possibilitava o livre acesso de abelhas na cultura da soja, o segundo consistiu na introdução de uma colmeia de Apis mellifera (abelha africanizada) no interior de uma parcela de soja engaiolada e o terceiro mantinha uma parcela de soja engaiolada sem o acesso de abelhas ou qualquer outro polinizador.
O pesquisador Décio Gazzoni, da Embrapa Soja, acompanhou de perto os experimentos. “Nos três anos do estudo, o incremento médio da produtividade da soja, nas parcelas engaioladas com uma colônia de abelhas, foi de 639 quilos por hectare (kg/ha), isto é, 12,97% , sendo de 274 kg/ha (5,58%) nas parcelas abertas, sem gaiolas, quando comparadas com as parcelas engaioladas, que não permitiam o acesso de polinizadores”, observa.
Confiança
A parceria tem gerado boas expectativas tanto para a Embrapa quanto para a Basf. “Para a Embrapa, é fundamental propor ações em parceria, que promovam a boa convivência e estimulem o respeito às diferentes atividades de campo, com foco na sustentabilidade dos sistemas produtivos. No caso específico do relacionamento entre sojicultor e apicultor, é importante a valorização da responsabilidade mútua, o que significa respeitar os limites além de suas áreas de cultivo ou propriedades”, afirma o chefe-geral da Embrapa Soja (PR), Alexandre Nepomuceno.
Já o gerente de Stewardship e Sustentabilidade da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf, Maurício do Carmo Fernandes, anuncia que a empresa estabeleceu como meta aumentar a parcela de soluções que contribuem significativamente com a sustentabilidade em 7% ao ano, além de fortalecer as ações que promovem o uso correto e seguro das soluções com as boas práticas agrícolas.
“Acreditamos que investir nessa iniciativa vai contribuir para o legado da agricultura. Todos podem sair ganhando nessa relação da produção de soja e de mel. A Basf apoia e promove esse trabalho conjunto, e é por isso que nos unimos à Embrapa nesse desafio. Afinal, estamos em busca do equilíbrio ideal entre a produção agrícola e o meio ambiente”, enfatiza.
Apiários
Para os apicultores, é fundamental seguir algumas orientações para garantir a boa quantidade e qualidade do mel. É essencial, por exemplo, a manutenção de abelhas saudáveis e colônias com grande quantidade de indivíduos, a substituição periódica da rainha, o manejo de favos, o respeito ao calendário floral, a limpeza do entorno e a suplementação alimentar, quando necessário.
Também é importante manter distância mínima de 500 metros de áreas com trânsito de pessoas e animais e distância mínima de 50 metros de áreas de lavoura. Outra recomendação é o uso de três colônias por hectare de pasto apícola, já que as abelhas buscam alimento em um raio de no máximo 2,5 km de distância.
Soja
Em relação ao produtor de soja, é importante manter a aplicação correta de pesticidas, com atenção a todos os cuidados necessários para a conservação das colônias de abelhas e espécies nativas. Para isso, basta seguir as recomendações do Manejo Integrado de Pragas da Soja.
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Conclusão
Cada vez mais produzir em equilíbrio com o meio ambiente tem sido uma excelente opção para o produtor rural, não apenas por conta da redução aos impactos ambientais (algo por si só, muito importante), mas também por ser algo que beneficia a produção das mais diversas culturas, tanto no que se refere à qualidade quanto no diz respeito à quantidade.
Um exemplo recente disso é o acordo de cooperação técnica e financeira assinado pela Embrapa e pela Basf, com o objetivo de possibilitar a convivência harmônica entre sojicultores e apicultores.
O projeto, muito bem estruturado, será colocado em prática já a partir da safra 2022/2023 e tem tudo para ser um sucesso, inclusive no que se refere ao aumento dos lucros dos produtores de soja e dos apicultores. É mais uma prova da possibilidade de equilíbrio entre produção agrícola e preservação ambiental.