A RAR, de Vacaria, está iniciando testes de dupla poda em Pinot Noir para ver se as uvas brotam novamente após geada de novembro
A geada tardia de novembro, que afetou fortemente os Campos de Cima da Serra, pode ser também a que vai provocar uma revolução na vitivinicultura gaúcha. Um experimento pode render a primeira colheita de inverno no Rio Grande do Sul. A RAR, de Vacaria, está iniciando testes de dupla poda em Pinot Noir para ver se as uvas brotam novamente. Com isso, a época de colheita ficará para o início dos meses frios. Esse método já está sendo fortemente difundido no Sudeste do país como alternativa aos períodos chuvosos. Por aqui, a tentativa da RAR, que só saberemos se vai vingar a partir do outono, seria umas das primeiras experiências neste sentido e faria com que tivéssemos mais de uma colheita por ano na Serra.
Por que a Pinot Noir foi escolhida para os testes? A explicação não é somente por ser uma das castas que mais bem se adaptaram à região. É que são variedades de colheita mais precoce. Esse fator é crucial para uma safra de inverno, já que a chance de fortes geadas se intensificam a partir de junho. Pelo período em que a poda foi feita, a expectativa dos técnicos da RAR é de que a colheita de inverno ocorra entre o final de abril e início de maio, segundo Mateus Dalsolio, coordenador de fruticultura da Fazenda Cachoeira de Muitos Capões, onde estão concentrados os vinhedos.
Para se ter uma ideia, a dupla poda foi feita em duas fileiras de vinhedos de um total de 3,5 hectares de Pinot Noir plantados pela RAR. Se funcionar, o que for colhido renderá cerca de 500 quilos, ou seja, dará para, no máximo, uma microvinificação. Se não representa volume de mercado, o que está sendo empreendido agora será crucial para as decisões futuras desta e de outras vinícolas da região que quiserem inovar. Cabe ressaltar que, em geral, os mais de 53 hectares de vinhedos da RAR em Vacaria terão perdas nesta safra de 75% em volume de produção por conta da geada. Desta forma, o experimento seria uma alternativa para uma região fortemente afetadas por este fenômeno.
A RAR iniciou o plantio de vinhedos há mais de duas décadas. A maior parte de sua produção vinífera é de Cabernet Sauvignon, que ocupa 12,3 hectares, e Merlot, com 13,6. Inclusive, o vinho ícone da empresa fundada por Raul Randon é feito com Merlot que, depois de colhida, é desidratada para se tornar o Don Raul. É o mesmo método que origina um dos principais clássicos italianos da região do Vêneto, o Amarone. Com menos água e maior concentração de açúcar, a elaboração deste vinho necessita de 12 toneladas de uva para elaborar de três a quatro mil garrafas.
A propriedade da Fazenda da Cachoeira ainda conta com outras variedades, como as brancas Sauvignon Blanc, Viognier, Traminer e Gewurztraminer. Os planos de expansão preveem o plantio de mais três hectares de Pinot Noir. Outras variedades que já foram enxertadas mas que ainda não tiveram colheita são a Cabernet Franc e as italianas Sangiovese, Aglianico, Montepulciano e Garganega.
Como funciona a dupla poda
Tanto no hemisfério Sul quanto no Norte, a uva é colhida no verão. A dupla poda ou poda invertida é uma técnica desenvolvida por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Pelo clima tropical brasileiro, com muita amplitude térmica, os pesquisadores concluíram que era possível, por meio da poda, iniciar o ciclo da videira no momento que for mais adequado. Com isso, são programadas duas podas, uma dos galhos que é a de formação, e outra para ativar a produção. (Pioneiro)